segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O poder do pensamento contra a reflexão



- Josivaldo, você sabia que para todo efeito há uma causa?

- Verdade, querida? Achei que você não gostasse de Física.

- Pois é, mas aprendi isso com a Ana Maria Braga!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Por uma cidade cidadã


Perto de onde moro existem alguns prédios com, ao menos, 4 andares que funcionam como estacionamento para seus inquilinos. Algo assim é vantajoso para seus moradores, já que lhes permite ter um estacionamento privativo e, por se localizar no prédio, mais seguro.

Contudo, esse modelo de urbanização é irracional. Ora, como pode em um país que possui um déficit habitacional de 5,5 milhões de moradias destinar o solo urbano para carros, máquinas que certamente menos necessitam desse espaço? Há, evidentemente, uma inversão de prioridades.

''Ah, mas muitas vezes não há espaço para se estacionar''. Certo, então o correto seria diminuir a necessidade que o brasileiro tem por carros, de modo a liberar esses espaços para quem realmente precisa, sem prejudicar aqueles que precisam de seus carros. Bastaria, por exemplo, investir em um aumento na qualidade e acessibilidade do transporte público, qualificando seus funcionários; diminuindo o preço da passagem pelo subsídio do Estado; investir na complementaridade entre rodovias, ferrovias e hidrovias; etc.

Outras iniciativas interessantes seriam aumentar o imposto sobre os carros - algo oposto ao que o governo tem feito para estimular a economia, ao reduzir o IPI -  e diminuir o espaço de sua publicidade nos meios de comunicação, especialmente a televisão.

Ora, essas medidas, que são apenas frações de um planejamento urbano, certamente levariam com que o brasileiro, no longo prazo, mudasse seus hábitos. Ganharia a cidade e seus cidadãos; afinal, com menos carros haveria menos poluição; acidentes de trânsito; espaços urbanos ocupados direta ou indiretamente pelos automóveis; entre outras coisas.

O que falta, infelizmente, é a vontade política para encabeçar esse projeto e enfrentar os interesses da indústria automobilística e das empresas de transporte público. Até lá, continuaremos com essa roda no sapato.

PS - Uma entrevista com Raquel Rolnik complementando o tema:

http://www.brasildefato.com.br/node/10961


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pelo voto responsável


Recentemente em São Paulo tanto o PCB quanto o PSOL, com a diferença de que este deu a opção do voto crítico em Haddad, orientaram seus militantes a votarem nulo nas eleição para prefeito. Ora, é evidente que o candidato do PT está distante das idéias e propostas destes partidos socialistas, contudo, este mesmo candidato está mais próximo ideologicamente deles do que o atual prefeito José Serra, que disputa a reeleição.

O que isso quer dizer? Simples. Ambos os partidos deveriam ter orientado a seus membros que votassem 13, sem dar margem ao voto nulo ou branco. Afinal, se um ou outro será eleito, inevitavelmente, porque não aumentar a probabilidade que um candidato do PT -  que ainda possui membros valorosos, como Paulo Paim e Tarso Genro - vença o candidato do PSDB, que abriga políticos como o ex-comandante do ROTA - eleito vereador recentemente - e Geraldo Alckmin, atual governador do estado de SP, responsável pela injusta e violento episódio do Pinheirinho?

Certamente, pela lógica de aliança que o Partido dos Trabalhadores vem desenvolvendo há décadas - como a que envolveu o PL de José Alencar com Lula em 2002 e, mais recentemente, com Maluf e seu partido - não são esperados grandes avanços; entretanto, as chances de ocorrerem retrocessos são menores se comparados com José Serra no poder.  

Ora, um governo petista, mesmo com todas as críticas, não é menos danoso aos trabalhadores paulistas? E não é papel dos comunistas almejarem o bem estar dos trabalhadores, ainda mais quando não há uma alternativa comunista ao Executivo?

Enfim, esses partidos devem se lembrar que ''quanto pior, pior'' e, portanto, fortalecer a alternativa menos prejudicial à classe trabalhadora - como fizeram ao apoiar Getúlio e JK no século passado. Caso contrário, ele estará contribuindo para que uma candidatura, mesmo que em desvantagem, que fere os interesses dos menos favorecidos se fortaleça.

PS - fica a minha lamentação pela declaração de Plínio de Arruda Sampaio, o qual admiro, em apoio ao candidato José Serra. Faltou a ele uma analise mais serena desse embate político.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Resenha: Massacre no bairro chinês


''Massacre no bairro chinês'' foi um filme lançado em 2009 - na época, chegou a ser proibido na China - que tem Tietou(Jackie Chan) como protagonista. Nele é retratada uma onda de migração ilegal de chineses, na década de 90, buscando melhores condições de vida no Japão.

Nesse contexto se insere Tietou, um tratoreiro chinês que, também, chega ilegalmente no país. Ao contrário da maioria que partia por razões econômicas, ele vai ao Japão em busca de sua namorada, que não mandava notícias há tempos. Conseguindo se esconder por 2 dias das autoridades japonesas, Tietou finalmente chega a uma casa de chineses ilegais, onde seu irmão, Jie, lhe introduz no cotidiano de seus compatriotas.

A partir daí, o protagonista aprende como enganar os orelhões japoneses, trabalha em ''trabalhos que ninguém quer fazer'', como catador em um lixão, etc. Com o tempo, ele consegue coordenar o resto dos chineses nos trabalhos ''sujos'' de maneira mais eficiente, conseguindo mais lucro e uma melhora na qualidade de vida do grupo. Como resultado desse sucesso, o grupo consegue juntar dinheiro para realizar um sonho do irmão de Tietou: um carrinho para vender castanhas.

Após essa calmaria, ocorre um fato que marca o resto da história. Jie é pego em um esquema dentro de um cassino pertencente à Yakuza - pronuncia-se Yakuzá. Como punição, ele é espancado, cortado e perde sua mão direita. Inconformado, Tietou se infiltra no cassino da Yakuza na tentativa de vingar seu irmão. Acontece que Tietou acaba salvando a vida de outro membro da organização que estava prestes a ser, devidos a conflitos internos na máfia japonesa, morto pelo chefe do cassino. Grato por salvar sua vida, esse membro acaba introduzindo Tietou na organização como uma espécie de associado; ele faria certos trabalhos para a organização sem jamais ser incorporado à ela.

Aí começa algo que marca o resto do filme: a transformação dos imigrantes de pessoas amigáveis e frágeis em indivíduos agressivos e poderosos - há no próprio filme tomadas de, provavelmente, um sociólogo entrevistado explicando a lógica desses grupos, como os chineses e a Yakuza. Tietou, por exemplo, aceita assassinar vários membros da Yakuza; seu irmão torna-se brigão e usuário de cocaína; os outros chineses começam a traficar drogas e se envolver ainda mais com a máfia. Isso tudo é sintetizado por uma fala da ex namorada de Tietou, em que ela comenta que os seres humanos tornam-se gananciosos e exigem mais e mais.

Enfim, esse filme retrata bem a transformação - nesse caso, para o mal - que sofrem os indivíduos que não são absorvidos dignamente pela economia, tendo que se comportar e viver à margem da sociedade. Além disso, ele permite ver Jackie Chan como um ator, ao invés de ser tratado como mero ''mestre de artes marciais''. Recomendo- o para os interessados nos problemas sociais e como isso afeta os principais afetados: os marginalizados; quem estiver procurando por um mero filme de ação, provavelmente não gostará.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

O conservadorismo se renova


Viés é quando informações são selecionadas em detrimento de outras. Assim, quando Zézinho fala à mãe que um vizinho gritou com ele e omite que isso ocorreu porque ele quebrou a janela daquele, ocorre um viés. Recentemente, isso também ocorreu no programa ''Bom dia Brasil'': em um dado momento, o programa noticiou que uma manifestação, reivindicando moradia, havia bloqueado uma importante rodovia paulista.

Apesar de a todo momento o jornal afirmar que estava comentando sobre o movimento(''voltamos agora com a manifestação''), o telejornal se limitou a comunicar o que foi descrito acima: os manifestantes a favor da moradia bloquearam a rodovia y. Em nenhum momento foi veiculado pelos - supostos - jornalistas informações relevantes a respeito de quem eram os manifestantes, quais os coordenadores do movimento, se havia algum partido envolvido na mobilização.

Pelo contrário. O programa, em franca censura à liberdade de expressão, tangenciou o assunto. Ficou discorrendo sobre a importância da dita rodovia para a cidade de São Paulo, o tamanho do engarrafamento decorrente do bloqueio feito pelos manifestantes, a reação dos motoristas à barragem. Enfim, nada que aprofundasse o que de fato era importante: a manifestação.

Como consequência desse viés, claramente conservador e anti-democrático, há a alienação e, potencialmente, um desprezo inoculado no tele-espectador. Alienação porque o cidadão é afastado de certas informações, como o déficit habitacional(falta de moradia para as pessoas) e os movimentos que lutam para que isso acabe; desprezo porque, não sabendo do contexto de problemas como esses, ele acaba tendo a idéia de que coisas desses tipos são coisas de ''desocupados'', ''vagabundos'', gente que não quer ''ralar'' - afinal, o cidadão em questão não sabe que existem carências sociais que requerem mais do que mero empenho individual para serem resolvidas. O conservadorismo se renova.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por que sou ateu?


Longe de não acreditar em Deus por considera-lo ''um delírio'' por si só, sou ateu por achar contraditório que Ele, perfeito e bom, coexista com essa realidade, imperfeita e má. Ora, como pode Deus tolerar que crianças sejam subnutridas, que inocentes sejam mortos ou mutilados em guerras, como a que se desenvolve na Síria atualmente?

Como diria Epicuro: ''ou Deus pode evitar as catástrofes ou não pode. Se pode e não o faz, não é bom. Se não pode, não é onipotente. Se não é bom, não é Deus, não existe. Se é impotente, não é Deus, não existe.''

Muitos contestam esse raciocínio afirmando que o mal não é culpa de Deus, mas sim do Homem, que o gera com suas más ações. No entanto, mesmo que Ele não pudesse ser julgado pela origem do mal, Ele o pode ser julgado pela permanência desse.

Ora, sendo Deus onipresente, onipotente e onisciente, por que ele não se revela para a humanidade, de modo a guia-la para uma prosperidade geral? Prosperidade em que não haja fome, medo, guerras, enfim, sofrimento? Se ele nada faz, ele compactua com o mal; ou seja, o paradoxo de Epicuro! Deus, se compactuar com o mal, poderá ser talvez um ente poderoso; um Demiurgo que, apesar de ser mais que nos meros humanos, continua limitado e falho. Não Deus.

Outro ponto frágil dessa argumentação é a de que Deus, sendo onisciente, certamente saberia o que suas criaturas terminariam por fazer; ou seja, ele saberia que haveriam as cruzadas, a inquisição, o massacre de Ruanda, a miséria no continente africano, etc. Mesmo assim, Ele não alterou a Criação de modo a impedir eventos como esses, eventos sofridos. Novamente, o paradoxo.

Diante da nossa sofrida realidade humana, outros argumentam de que tudo isso faz parte de um plano divino. Deus estaria testando, por exemplo, nossa fé ou nos preparando para uma iluminação espiritual - como afirma o Espiritismo. Ora, em ambos os casos o Homem é coisificado, tornando-se um objeto nas mãos de Deus para que ele cumpra sua Providencia.

Algo assim é cruel, pois não respeita a autonomia de um ser inteligente, como o ser humano. Se ha de fato livre arbítrio, por que Ele não expõe seu plano e pergunta se o aceitamos? Afinal, por que não criar um realidade sem sofrimento? Alias, para que serve a Criação? Se Deus é perfeito e, portanto, reúne todas as virtudes, Ele não deveria bastar a si mesmo? Para que perder tempo criando algo e, no nosso caso, algo tao torto e errado?

Enfim, por esses motivos sou ateu. A proposito, isso não significa ter certeza que Ele não existe, mas sim acreditar ou considerar como mais provável que Ele não exista. De modo eu e, acredito, outros ateus não temos problemas em debater com teístas, religiosos ou não, a existência de Deus. Ao contrario do que muitos ateus deixam transparecer, o ateísmo não é um fato cientifico.

sábado, 18 de agosto de 2012

Humor e midia


Aquelas brincadeiras tidas como bobas, a exemplo de enfiar um lápis no nariz ou dar um trote em alguém, existem há tempos. O que não existia, e atualmente é marcante no Brasil, é a mercantilização dessas brincadeiras. Programas como o ''Panico na TV'' vivem dessa oferta. Mas, afinal, o que isso representa para a sociedade: seria uma especie de degradação cultural ou, como muitos afirmam, apenas divertimento?

Muitas vezes, existência desse tipo de conteúdo demonstra apenas o gosto que o ser humano tem pelo humor. Gracas a ele, relaxamos em momentos de tensão ou quebramos aquela apatia que, vez ou outra, aparece. É natural, como disse um ex ministro da Cultura, que vez ou outra vejamos besteiras. De vídeo cassetadas ate alguém andando fantasiado pela rua, são coisas que nos divertem, por mais que se tente esconder isso. Questione-se, leitor: você seria capaz de apenas ''consumir'' filosofia, politica ou economia, sem jamais dar espaço para brincadeiras? Certamente que não.

Entretanto, ao mesmo tempo que o humor pode nos divertir, ele também pode agredir as pessoas. Isso acaba acontecendo quando ele é feito sem qualquer tipo de limite. Um exemplo disso se deu, há alguns anos atrás, com o ator Wagner Moura. Ele comentou a historia, em um artigo publicado no jornal O Globo; lá, ficava-se sabendo que um apresentador havia, do nada, esparramado sobre ele uma especie de gel e que, enquanto ele tentava escapar da investida, o apresentador tentava mante-lo no local. Embora seja dito que fatos como esse são o preço da fama, não há algo que possa justificar uma postura dessas. Nada deve passar por cima de direitos como a dignidade e liberdade humana. Não há, simplesmente, graça quando isso acontece, afinal, o humor é, antes de tudo, um pacto entre humorista e publico; sem a permissão desse não ha espetáculo para aquele.

Infelizmente, casos como esses não são exceção, tendo em sua origem fatores diversos. Um deles seria o precário ensino brasileiro que, no geral, não expande o horizonte cultural do jovem. Dai sai, por exemplo, o desinteresse pela leitura e escrita, pela poesia, pelo teatro; enfim, todo um repertorio que aprimoraria o espirito da população, formando uma maior consciência critica sobre a realidade.

Um outro fator tange a mídia. Como essa é, em sua maior parte, formada por empresas privadas, acontece que a programação se resume ao que proporciona lucro. De modo que a produções de programas ''heterodoxos'' são deixadas de lado. Consequentemente, a população fica viciada nos mesmos programa e ideias - um bom exemplo é o programa Ver TV, que debate o comportamento da mídia brasileira; não por acaso, o programa é veiculado pela TV Câmara .

Portanto, as ''bobagens'' que marcam presença em nossos meios de comunicação são necessárias e saudáveis, desde que respeitem direitos humanos como a dignidade e liberdade. A fim de evitar que esse humor se torne negativo e excessivo, urge por um lado melhorar a educação publica, diversificando a demanda cultural e por outro regular os meios de comunicação, impondo uma diversidade minima em sua programação ou oferta.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mercantilização


Há um tempo , vi esse outdoor fazendo propaganda da Kerokasa que, como o cartaz já diz, é uma cooperativa habitacional. Me surpreendi com a imagem da modelo Carol Marques de lingerie no anúncio. Afinal, o que o desejo de uma nova moradia pode ter a ver com um simbolo sexual?

Evidentemente, ela não esta ali para nada. Seu objetivo, no caso, é simular o tipo de mulher que o eventual cliente da cooperativa poderá ''conseguir''. Ou seja, tanto o homem quanto a mulher são diminuídos. Aquele por aceitar tratar a mulher como algo tão barato e esta por se vender em troca de conforto material.

A união, longe de representar um afeto sincero, é, na verdade, movida por interesses mesquinhos. Novamente, a logica mercantilizadora do capitalismo se faz valer nas relações humanas. É o materialismo histórico em franca expressão.

sábado, 4 de agosto de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Bravo e o iludido

                                                                            

Recentemente assisti um comercial da Fiat, mostrando o modelo Bravo 2013. Nesse caso, me chamou atenção como foi levado ao extremo o velho know how das propagandas.

Muitos desses comerciais, na tentativa de vender o produto, alardeiam os acessórios desse( motor de x cavalos, entrada USB, blue-ray...), o prazer e conforto da direção, etc; mas nesse, o discurso é mais explícito.

Desde o início, o personagem perde lentamente sua identidade: começa a desaparecer, sumir dos retratos... Somente após entrar no Bravo que o efeito cessa. A partir daí seu carro, e pois ele, passam a ser notados; principalmente pelas mulheres - no desenrolar do comercial, as cenas principais são com mulheres admirando o ''carro''.

O que se entende disso? Simplesmente que para ser reconhecido pelos outros(colegas de trabalho, amigos, mulheres...) é preciso ter algo; seja o carro do ano, roupas caras, jóias; enfim, objetos. Um discurso desses representa bem o fetichismo da mercadoria, onde o sujeito é subjugado por um objeto; o objeto, como que por feitiço, ganha ''vida'' e passa a definir a pessoa humana.

Um fato desses é apenas mais um exemplo de que, na sociedade vigente, o ser humano é encarado como um meio(comprar, produzir, consumir...) e não um fim em si mesmo(pensar, praticar esportes, estudar, amar...); o sujeito, assim, termina por se coisificar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

No meio do caminho havia uma roda

Independentemente de que dia, ontem morreram cerca de 160 pessoas no trânsito. Eram vidas; homens e mulheres que possuíam planos, família, amigos... Tudo isto foi cortado pelo caos do trânsito brasileiro; ato esse que deveria ser simples e seguro, mas que acaba virando uma odisséia. Mas, afinal, de quem é a culpa?

De início, pensa-se nos motoristas imprudentes que, por exemplo, dirigem sobre o efeito do álcool. Essa visão está correta; contudo, ao desconsiderar o contexto social, no qual ela está inserida, ela acaba por se tornar superficial.

Ora, mas quem mais poderia ser responsável? Dois grandes atores de peso: o Estado e a iniciativa privada. Aquele falha, por exemplo, ao não fornecer um transporte público de qualidade e acessível e ao não formar cidadão aptos a zelar pelo bem comum (basta olhar a depredação em vários trens e ônibus); este, ao promover o consumo de automóveis, através da lógica capitalista, e reforçar o individualismo potencializa a violência nas estradas.

Diante desse cenário, urge realizar medidas de caráter público. É, portanto, vital recuperar os transportes públicos(ônibus, trens, metrôs, etc); recuperar a educação brasileira(aumentando o financiamento para 10% e melhorando a gestão desses recursos); impor limites, assim como com os cigarros, à propaganda de automóveis - seria interessante, por exemplo, impedir propagandear carros circulando em cidades vazias; como se não houvesse engarrafamento, sinais... Estas mudanças, algumas dentre várias outras, são um bom começo para tirar essa roda que se instalou em nossos sapatos.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

De olho na rede


A internet pode ser definida como uma rede de usuários, desde pessoas à empresas como a Microsoft. Nessa são transmitidas imagens, textos, vídeos; enfim, informação. Os efeitos desse processo, positivos ou negativos, variam de acordo com o uso. Para os que pretendem evitar transtornos é necessário responsabilidade.

Um primeiro modo de demonstra-la seria estar atento ao que se fala: em um meio virtual, fala-se algo grosseiro ou até mesmo intolerante. Além de causar desconforto - como quando um amigo não capta a ironia - , é possível conter um crime; a exemplo de Mayara Petruso que perdeu seu estágio em um escritório de advocacia ao ofender nordestinos.

Outro seria evitar a publicação excessiva do cotidiano: já houve casos, por exemplo, de pessoas que foram alvos de criminosos, apenas porque esse monitoravam sua rotina pelo Facebook ou Orkut. Em casos mais extremos dados, que sequer foram repassados à rede, foram expostos na Internet; a exemplo do que recentemente aconteceu com Carolina Dieckman.

Um terceiro seria referente a ''políticas de privacidade. Corporações como o Google, a fim de estipular um perfil de consumidor do usuário, transferem dados dele à outras empresas; como poucos se informa sobre isso, acabam por, sem se dar conta, ter uma intimidade invadida.

Enfim, urge que os indivíduos preservem seus dados pessoais e, por outro lado, o Estado intervinha na forma como as informações são veiculadas via Internet, de modo a conciliar privacidade e liberdade.

A cor em evidência


Entende-se por racismo toda prática que inferiorize um grupo étnico(como índios e negros). Um processo desses, já desqualificado pela ciência, é uma clara afronta aos direitos humanos e, portanto, passível de enfrentamento. Mas, o que são os direitos humanos?


São tudo, seja material ou não, que um ser humano deve possuir( direito à alimentação, saúde, educação, etc). Algo assim pode ser defendido, não apenas por sentimentos de empatia, mas também por razões práticas; as sociedades mais desenvolvidas são um exemplo concreto disto: por, historicamente, terem adotado forte políticas pró educação, saúde, renda, etc, possuem não apenas um maior senso de solidariedade mas também melhor qualidade de vida.


Sob o ponto de vista destes direitos, o racismo é uma agressão, já que, graças a ele, a alta estima é quebrada, empregos são negados, pessoas são humilhadas; em suma, um grave problema social.


Mas, como se dá o racismo? Ele se manifesta de diversas maneiras, podendo ser em uma forma explícita, quando, por exemplo, um negro é chamado de macaco; implícita, a exemplo do tratamento diferenciado dado pela polícia aos negros; interno, quando um negro não se encara como tal, tentando se passar ao máximo por branco ou algo próximo disso.

A fim de coibir tais práticas, foram implementadas uma série de ações pelo Estado brasileiro: cotas sociais, raciais, criminalização do racismo, criação do Estatuto da igualdade, etc. Essas ações, embora aceitas por muitos, sofreram oposição de certos segmentos da sociedade - a exemplo da ação de inconstitucionalidade levantada pelo DEM em relação às cotas raciais.


A despeito das resistências, o Estado continua a defender os direitos humanos. No tocante ao racismo, é essencial atacar sua raiz: quebrar o abismo econômico e, pois, social que existe entre brancos e negros; através da recuperação dos serviços básicos (saúde, educação, segurança...) e de políticas distributivas(como a instituição da reforma tributária). Até lá, o Brasil não deixará de ser um projeto de democracia racial.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

Descrever para escrever


Descrição pode ser entendida como um discurso que pretende caracterizar algo ou alguém. Assim, caso disesse que Diego é moreno e sério ou que São Paulo é uma cidade violenta, estaria descrevendo. Agora, qual seria seu fim? Seria o de simplesmente qualificar um sujeito ou objeto, ou iria além disso?

Muitos escritores se limitam a essa primeira definição; ou seja, descrevem por descrever, como se alguma obrigação moral os impusse uma total representação do universo textual. Dessa postura podem sair aqueles textos enfadonhos e travados, que mais afastam do que atraem os leitores; portanto, comportamento prejudicial ao texto, já que compromete a transmissão da mensagem.

Por outro lado, outros imputam à descrição um fim; de modo que transformam ela, de um fim em si mesma, a um meio para dado objetivo. Daí sairia a possibilidade, por exemplo, de um autor adaptar a descrição de um cenário à visão de um personagem altista; o resultado seria obviamente bastante incomum.

Pelo fato dessa descrição, ao contrário daquela, ser moldada pelo autor - que retiraria ou acrescentaria, modificaria ou não - , ela evitaria os excessos ou redundâncias; consequentemente, a leitura tornaria-se dinâmica e atraente, já que no momento da descrição - geralmente encarada como ''aquela parte chata'' - guardaria informações importantes ao texto. Enfim, seria uma descrição inteligente.

PS - indico Graciliano Ramos e Isaac Asimov como exemplo de autores que escrevem objetivamente.

domingo, 15 de abril de 2012

Mercantilização da vida

Segundo o discurso liberal, o Estado é essencialmente um gestor ineficaz; falta a ele o pique da iniciativa privada. Essa, por sua vez, tem a capacidade de garantir a qualidade dos serviços oferecidos, pois sua sobrevivência depende exclusivamente desses – já dizia o ditado popular: o cliente sempre tem a razão.

Entretanto, essa fala é facilmente contestada pela realidade. Basta se observar, por exemplo, o serviço das barcas do Rio de Janeiro; que, apesar dos constantes aumentos da passagem, se mostra incapaz de oferecer um mínimo de dignidade a seus consumidores. Atraso, superlotação, despreparo no atendimento são uma constante na rotina daqueles que as utilizam.

Outro ponto que pode ser levantado contra esse modelo é o da democracia. Ora, em uma sociedade que fatores essenciais à formação de um cidadão ,como saúde e educação, se vêem barrados pela renda, acaba sendo inevitável que aqueles que disponham de poucos recursos sejam alijados dos serviços oferecidos ou, ao menos, recebam serviços de uma menor qualidade – cenário facilmente evidente, por exemplo, no caso das universidades privadas; dirigidas às camadas pobres e, em sua maioria, de qualidade duvidosa. Em suma, uma minoria consegue pagar por seus direitos, enquanto a maioria fica à deriva, sobrevivendo como pode.

O discurso que fundamenta essa prática é, por vir de cima, insensível. Seus ideólogos, certamente provenientes de camadas privilegiadas, não se importam com o sofrimento alheio. Para esses, mazelas como a fome, sede, violência, desemprego são meramente efeitos da ação individual; ‘’se eles trabalhassem mais, se fizessem mais esforço...’’. Mesmo aqueles que admitem as falhas do sistema, enxergam essas questões como um mal necessário à manutenção da ordem –  ou desordem? Me recordo que um certo economista, encarnando essas opiniões, afirmou que não havia nenhum problema em alguém não ter aonde morar...

Ora, é evidente que esse é um modelo não desejável. Cabe à aqueles que desejam uma sociedade mais igualitária, justa e harmônica lutar para que o Estado, sob julgo da população, retome o monopólio desses direitos; direitos esses que jamais devem ser vendidos para a população, afinal, jamais deixaram de pertencer à ela.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Solidariedade



Recentemente tive que ir ao Rio de Janeiro resolver alguns problemas. Desci na rodoviária Novo Rio e segui em direção às minhas pendências.

Após tudo ter sido resolvido, peguei um ônibus para retornar à rodoviária. Quando desembarco desse ônibus, sou rapidamente abordado por um assaltante. ‘’Vem comigo’’; ele tenta me puxar para um canto. Já tenso, me afasto e sigo em direção a um aglomerado de motoristas de uma pequena rodoviária local.

Olho para os lados e percebo que o assaltante, discretamente, espera o grupo se dispersar. Nesse instante, um motorista próximo avisa que duas pessoas estão a me chamar. São outros motoristas; vou em direção a eles.

Chegando lá, eles comentam comigo que perceberam que estava sendo assaltado; perguntam de onde sou e, sabendo que devo retornar a Novo Rio, pedem para eu entrar no ônibus; me levariam até a entrada dela – quando, de início, estava indo pelos fundos - de ônibus, para evitar que o assaltante tentasse me seguir.

Daí tudo correu tranqüilamente. Graças à ajuda desses, consegui evitar um assalto e, quiçá, algo pior. Me lembro que nesse dia me senti bastante tocado pela generosidade desses trabalhadores, que, sem me conhecer e tampouco sem exigir algo em troca, me deram uma carona contra a tão conhecida violência urbana.

Certamente, um ato que ficará na minha memória e que reforça minhas concepções socialistas. O povo brasileiro merece um país melhor.




terça-feira, 20 de março de 2012

Línguas cortadas


O ato de comunicar sempre tem como base algum tipo de norma; essa, por sua vez, tem como origem uma série de fatores, como idade, gênero, classe social, nacionalidade, meio geográfico (cidade ou campo) no qual o indivíduo se insere. Dessa desigualdade surgem conflitos, na maior parte das vezes (senão sempre) causada pela minoria que domina, mesmo que parcialmente, a norma culta. Segundo esses, as modificações populares são perversões que devem ser excluídas do cotidiano.

Esse tipo de posição desconsidera o caráter adaptativo da linguagem. Não há sentido em estipular um mesmo tipo de fala ou escrita para variadas situações. Em festas, reuniões familiares, conversas de bar há uma descontração tal que permite a fala informal, despreocupada, abreviada. Em momentos como esses, não há necessidade de ficar se preocupando com a regra x ou y. Basta falar!

Outro ponto importante é que se a norma culta fosse de fato o único meio para se comunicar, então ninguém – ninguém mesmo – passaria no teste. Por quê? Simplesmente porque todo grupo social altera a língua; o que varia é o grau que essa adaptação tem: os mais pobres, pelo baixo tempo de estudo à eles oferecido, acabam por suprir as lacunas que faltam do modal tradicional; como resultado, eles alteram de maneira mais intensa o padrão culto da língua. Por outro lado, as classes ‘’letradas’’ também fazem seus experimentos linguísticos. Basta ver a fala do jornalista do Bom dia Brasil , ao criticar uma suposta tentativa de se ensinar o jeito ‘’errado‘’: quanto eu tava na escola... Como é sabido, ‘’tava‘’ é uma abreviação de ‘’estava‘’, sendo essa forma a almejada pela norma culta e, mesmo assim, ignorada pelo ditos letrados - incluindo o inconformado jornalista.

Mas, digamos que ela fosse não apenas ideal para todas as ocasiões, mas também atingida por todos. Mesmo assim ela ainda seria passageira. Como toda criação humana, ela sofreria alterações até que chegasse o ponto que sua estrutura seria drasticamente alterada; surgindo um tipo totalmente diferente de língua - como o português atual é para o antigo. Ora, se é de fato desejável se utilizar apenas de uma norma, ela jamais poderia se alterar em qualquer aspecto, por menor que fosse. No entanto, como esse é um processo inevitável, aqueles que consideram apenas a forma tradicional acabam se prendendo a uma ilusão, ao elefante branco da escrita e falas perfeitas.

Dessa maneira, fica evidente a necessidade de quebrar essa lógica do certo/errado e substituí-la pelo o que é adequado ao contexto. A língua, portanto, deve ser antes de tudo um objeto do qual as pessoas façam o uso que melhor acharem, sem, contudo, desconsiderar a norma culta; trata-la como algo simplesmente estática e linear é negar sua própria essência.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Um liberal, de fato, liberal

Recentemente terminei de ler um livro chamado Vícios não são crime – isso mesmo, crime está no singular. Trata-se de um ensaio feito pelo ‘’advogado, empreendedor e político Lysander Spooner’’, nos Estados Unidos da América do século XIX – em 1875.


O tema da obra já é delimitado pelo título. Durante essa, o autor defende um ponto de vista muito interessante sobre crimes que envolvam vícios da idade contemporânea: os vícios – como o que ocorre com as drogas e jogos de azar – não devem ser tratados, seja pela sociedade quanto pelo Estado, como crimes.


Por quê? Porque, segundo ele, os vícios são, essencialmente, tentativas do indivíduo de alcançar a felicidade; não há assim, no ato da ‘’libertinagem’’, a tentativa de prejudicar outras pessoas, fato esse que caracteriza todo crime: lesar outros e suas respectivas propriedades.


Em decorrência disso, o autor estabelece uma postura um tanto incomum para sua época: a de tratar esses ‘’desviados’’ com assistência e compreensão, já que a consumação desses vícios acabam, muitas vezes, por prejudicar o usuário.


Esse tratamento, contudo, não é o que se almeja atualmente – ao menos, pela esquerda. Representando o pensamento de muitos liberais da época, Spooner abre essa alternativa tanto à esfera pública quanto à privada; em ambos os casos, há a opção de ajudar. Segundo ele, o governo, sendo um conjunto de indivíduos, somente irá ajudar caso os governantes queiram faze-lo. Esse pensamento ilustra muito bem o estado dos direitos humanos na época – restritos à propriedade, liberdade e busca da felicidade.


De qualquer maneira, o livro é uma boa leitura para aqueles que se interessam sobre o relacionamento entre indivíduo e sociedade. Além do que já citei, o texto carrega engraçadas doses de xenofobia aos ingleses – fruto, talvez, da mágoa com a velha metrópole, a Inglaterra.



Magrelas, mas mal amadas

As bicicletas, vulgas magrelas, certamente passaram pela vida da maioria de nós. Para alguns, ela serve para os momentos de lazer, à beira da praia ou parque, outros a utilizam como meio de transporte e outros tantos a encaram como um esporte.


Desde a sua criação, ela se expandiu pelo mundo. No entanto, o tratamento dado à ela varia; ora é bem recebida, ora não. Basta comparar Brasil e Holanda. Os ciclistas holandeses são uma constante nas ruas de seu país; no Brasil apenas alguns se arriscam ao risco de se ‘’expor’’ na rua.


Dessa rejeição surge o descaso do poder público. No Rio de Janeiro, por exemplo, as ciclovias são concentradas em pontos da cidade, muitas vezes na orla; as que existem estão em mau estado de conservação; falta segurança, os assaltos são freqüentes, principalmente contra jovens e em horários de pouco movimento.


A insegurança de alguns ciclistas - basta pesquisar em fóruns - é tamanha que muitos preferem se arriscar nas rodovias – onde muitos motoristas tem a mania de raspar nas bicicletas - do que ter que cruzar certas ciclovias em determinado horário, como a que existe no Aterro do Flamengo.


O ciclismo, por ser um transporte que exige força do utilizador, é um modal que apresenta grandes benefícios à saúde e, em paralelo, torna a vida nas cidades mais amena, menos veloz e, fator importantíssimo, mais limpa. Já está na hora de a ciclovia ser incorporada à estrutura das cidades. 

Quindou


Recentemente comprei um Kindle – modelo básico da nova geração. Por que o fiz? Justamente porque, assim como muitos, tenho a rotina de ler e, principalmente, falta de espaço para os livros.


É justamente nesse ponto que o Kindle se foca: a praticidade. Nele, variando a memória, é possível armazenar milhares de livros em apenas ‘’um’’ só; e mesmo esse é, no caso do meu, bastante leve.


Além da praticidade, esse livro digital oferece outros tipos de facilidades. Por exemplo, com o dicionário do português e inglês já instalados na memória do aparelho, é possível em uma leitura destacar uma palavra com o cursor e achar seu significado; na vida real, isso levaria mais tempo: teria-se que achar a inicial, depois procurar alfabeticamente; e isso quando a gente não se perde...
No Kindle, isso é, pelo contrário, instantâneo!


Ora, mas ele deve cansar a vista; diriam alguns. Não acontece. O Kindle possui uma tela feita especialmente para não desgastar a vista; é como se o leitor estivesse olhando para um papel comum. Sem falar que também não é preciso forçar a vista, já que existe nele uma opção para se alterar o tamanho das fontes; certamente uma grande vantagem para os mais idosos.


Talvez o real problema do Kindle em relação a nós seja seu restrito repertório de livros nacionais. Entretanto, esse é um obstáculo que pode razoavelmente ser transposto.


Embora o Kindle seja algo recente – se não me engano, o primeiro modelo foi lançado em 2004 – os chamados e-books (livros eletrônicos) já estão há mais tempo na rede. É possível, assim, achar os livros eletrônicos que se deseja e passá-los para seu Kindle. No entanto, muitas vezes esses livros estarão em um formato estranho ao Kindle – seja em PDF, WORD, etc -; então, o que fazer? É possível mandar os arquivos para um e-mail da Amazon e, já no formato adequado, para o Kindle. Este link contém um guia mais detalhado: http://www.rodrigoghedin.com.br/blog/converter-pdf-azw-kindle


Enfim, considero o Kindle uma revolução por esses motivos. Embora muitos se sintam apegados – desnecessariamente – ao ‘’bicho’’ livro, com seu cheiro e textura, acredito que a era dos livros digitais é uma tendência a ser expandida; da mesma maneira como o foi na passagem dos livros manuscritos para os impressos. Fica a idéia à aqueles que pensam em adquirir um desses.


PS – a propósito, é esperado que a Amazon lance o modelo básico do Kindle no Brasil por cerca de 200 reais no final do ano.

Luísa



Conheci há pouco uma mulher chamada Luísa. Negra, analfabeta, doméstica; Luísa é a encarnação de tantos brasileiros que, destituídos de renda em uma sociedade capitalista, não conseguem fazer valer seus direitos como tanto fazem os privilegiados desse país.

Prova desse muro entre os que têm e os que não tem é outra Luísa que conheci; essa já rica – não por possuir mansões ou algo do tipo, mas por ter alimentação, saúde e educação garantidas -, pode estudar, se divertir, se alimentar e, nesse momento, ingressar no ensino superior de uma renomada universidade pública.


Dois nomes e gêneros iguais; ambas são humanas; possuem os mesmos direitos garantidos na constituição ‘’cidadã’’, mas, ainda assim, estão diferentes. Uma, como cheguei a saber, é duramente alijada de seus direitos por seus patrões; outra, tem altas chances de ter um futuro digno, trabalhar no que gosta, ter acesso ao lazer, etc. Quiçá até, caso queira, se tornar ‘’patroa’’.


Essas duas Luísa são o retrato de um país desigual, onde os direitos ou alguns deles são garantidos à uma minoria em detrimento de uma maioria que luta a cada dia para sobreviver; assim, esses deserdados e ‘’preguiçosos’’ não conseguem desenvolver suas potencialidades e se afirmar como cidadãos. A retirada de sua dignidade alimenta um círculo vicioso, onde aquele que pouco tem, pouco sabe e, pois, pouco luta e por pouco lutar, continua ter apenas migalhas da riqueza nacional.


É o Brasil a fonte destas duas Luísa; como um Cronos que devora seus próprios filhos, mas ao contrário desse, ele escolhe qual pode e qual não pode viver.

Sem limites... Até que ponto?


Em ‘’Sem limites’’, o espectador é apresentado a Eddie Morra, um frustrado ser humano e escritor. No fundo do poço, ele acaba por ter acesso a uma droga capaz de levar o funcionamento de sua mente ao zênite. No entanto, como havia recebido apenas uma pílula, ele parte a procura de mais. A partir daí, o filme se desenvolve na busca pelo elixir da inteligência, aprofundando a personagem e sua história.


O filme, apesar de interessante e agradável, se mostra bastante superficial, não fugindo, nesse ponto, do padrão hollywodiano. É surpreendente que um ser humano, inicialmente pacato, ao se elevar a condição de gênio – no final, Morra é capaz de prever o futuro matematicamente– não questione o status quo político, econômico e social. A inteligência, pelo contrário, se mostra limitada ao sistema vigente, afinal, as coisas são e sempre serão assim, não havendo, portando, nada que se pensar.


No desenrolar da trama, com sua ‘’inteligência’’, Morra torna-se um importante acionista do mercado de ações, conseguindo, dessa maneira, acesso aos luxos da alta sociedade. Festas, reuniões empresariais e belas mulheres - afinal, o amor é somente dos belos - integram-se a sua rotina. Sua ex, inclusive, revive seu amor por Morra, ao perceber que ele finalmente ''tomou jeito''. O homem capaz e astuto torna-se, pois, aquele que tem dinheiro, poder e...mulheres.


São idealizações desse tipo, conscientes ou não, que acabam por desumanizar o Homem. Cria-se uma falsa idéia de que o ápice da vida se dá no sucesso financeiro e material. Tal visão do potencial humano somente denota a degradação intelectual por qual passa a humanidade contemporânea, influenciada pelo consumismo e individualismo.


Urge, portanto, a recuperação do Homem, que se animalizou em uma natureza artificialmente criada por si, mas não para si. Somente com reflexão, ação e organização que o bicho Homem romperá com os limites que impôs a si mesmo. Somente com a verdadeira inteligência, que Homem se tornará de fato ilimitado.