sexta-feira, 16 de março de 2012

Luísa



Conheci há pouco uma mulher chamada Luísa. Negra, analfabeta, doméstica; Luísa é a encarnação de tantos brasileiros que, destituídos de renda em uma sociedade capitalista, não conseguem fazer valer seus direitos como tanto fazem os privilegiados desse país.

Prova desse muro entre os que têm e os que não tem é outra Luísa que conheci; essa já rica – não por possuir mansões ou algo do tipo, mas por ter alimentação, saúde e educação garantidas -, pode estudar, se divertir, se alimentar e, nesse momento, ingressar no ensino superior de uma renomada universidade pública.


Dois nomes e gêneros iguais; ambas são humanas; possuem os mesmos direitos garantidos na constituição ‘’cidadã’’, mas, ainda assim, estão diferentes. Uma, como cheguei a saber, é duramente alijada de seus direitos por seus patrões; outra, tem altas chances de ter um futuro digno, trabalhar no que gosta, ter acesso ao lazer, etc. Quiçá até, caso queira, se tornar ‘’patroa’’.


Essas duas Luísa são o retrato de um país desigual, onde os direitos ou alguns deles são garantidos à uma minoria em detrimento de uma maioria que luta a cada dia para sobreviver; assim, esses deserdados e ‘’preguiçosos’’ não conseguem desenvolver suas potencialidades e se afirmar como cidadãos. A retirada de sua dignidade alimenta um círculo vicioso, onde aquele que pouco tem, pouco sabe e, pois, pouco luta e por pouco lutar, continua ter apenas migalhas da riqueza nacional.


É o Brasil a fonte destas duas Luísa; como um Cronos que devora seus próprios filhos, mas ao contrário desse, ele escolhe qual pode e qual não pode viver.

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