domingo, 15 de abril de 2012

Mercantilização da vida

Segundo o discurso liberal, o Estado é essencialmente um gestor ineficaz; falta a ele o pique da iniciativa privada. Essa, por sua vez, tem a capacidade de garantir a qualidade dos serviços oferecidos, pois sua sobrevivência depende exclusivamente desses – já dizia o ditado popular: o cliente sempre tem a razão.

Entretanto, essa fala é facilmente contestada pela realidade. Basta se observar, por exemplo, o serviço das barcas do Rio de Janeiro; que, apesar dos constantes aumentos da passagem, se mostra incapaz de oferecer um mínimo de dignidade a seus consumidores. Atraso, superlotação, despreparo no atendimento são uma constante na rotina daqueles que as utilizam.

Outro ponto que pode ser levantado contra esse modelo é o da democracia. Ora, em uma sociedade que fatores essenciais à formação de um cidadão ,como saúde e educação, se vêem barrados pela renda, acaba sendo inevitável que aqueles que disponham de poucos recursos sejam alijados dos serviços oferecidos ou, ao menos, recebam serviços de uma menor qualidade – cenário facilmente evidente, por exemplo, no caso das universidades privadas; dirigidas às camadas pobres e, em sua maioria, de qualidade duvidosa. Em suma, uma minoria consegue pagar por seus direitos, enquanto a maioria fica à deriva, sobrevivendo como pode.

O discurso que fundamenta essa prática é, por vir de cima, insensível. Seus ideólogos, certamente provenientes de camadas privilegiadas, não se importam com o sofrimento alheio. Para esses, mazelas como a fome, sede, violência, desemprego são meramente efeitos da ação individual; ‘’se eles trabalhassem mais, se fizessem mais esforço...’’. Mesmo aqueles que admitem as falhas do sistema, enxergam essas questões como um mal necessário à manutenção da ordem –  ou desordem? Me recordo que um certo economista, encarnando essas opiniões, afirmou que não havia nenhum problema em alguém não ter aonde morar...

Ora, é evidente que esse é um modelo não desejável. Cabe à aqueles que desejam uma sociedade mais igualitária, justa e harmônica lutar para que o Estado, sob julgo da população, retome o monopólio desses direitos; direitos esses que jamais devem ser vendidos para a população, afinal, jamais deixaram de pertencer à ela.

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