segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Curva à esquerda




Na folha branca de papel faço o meu risco,
Retas e curvas entrelaçadas,
E prossigo atento e tudo arrisco
Na procura das formas desejadas

São templos e palácios soltos pelo ar,
Pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar,
Encontrará, em todos, os encantos da mulher.

Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.

A arquitetura que faço não importa.

O que eu quero é a pobreza superada,
A vida mais feliz, a pátria mais amada.


Esse poema, do Niemeyer, me lembra uma questão comumente colocada para os esquerdistas socialmente privilegiados, como artistas e integrantes das classes médias.Que questão é essa? A de que esses esquerdistas são incoerentes.

É um ponto de vista equivocado, pois um esquerdista poderá abrir mão dos benefícios que recebe de sua posição social em prol de sua ideologia:
aquele que pretende apenas reformar o capitalismo poderá aceitar perder renda e riqueza para que quem estiver na base da piramide tenha dignidade. Por exemplo, isso ocorreria com um profissional liberal que aceita e concorda em ser mais tributado para que os serviços públicos sejam financiados;
aquele que pretende substitui-lo pelo socialismo poderá aceitar - partindo de uma visão simplista do socialismo - ter o mesmo que os demais trabalhadores. A exemplo de Che, que abandonou a sua vida de classe média por seu ideal socialista.

Claro que, em ambos os casos, pode haver um incoerente. Há exemplos deles na história do socialismo real, como os burocratas de países comunistas que viviam com privilégios. Porém, essa incoerência não ocorre necessariamente, como já demonstrado. Isso basta para que esse senso comum sobre a esquerda não seja, a priori, verdade.

Niemeyer era, felizmente, um coerente,

A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
A vida mais feliz, a pátria mais amada.




domingo, 28 de setembro de 2014

É a Rádio Bobo!



Conheci a Rádio Globo por uma vizinha que insiste em manter o rádio no volume máximo. Ganhei desgosto pela programação. A forma com que os radialistas se comunicam com o público é infantil, boba e espalhafatosa - o que reflete uma infantilidade dos trabalhadores brasileiros, preso à essa mediocridade, já que as empresas não tem interesse em elevar, mesmo que para a direita, o nível da programação.

Um bom exemplo disso é a chamada "Bota amizade nisso". Ora, somente pessoas simples podem acreditar que uma empresa, que apoiou a ditadura, pode ter amizade com o povo. Ele é apenas um consumidor, não amigo; mas a Globo se aproveita da fragilidade do povo e o engana - se fosse tão amiga do povo, apoiaria a Reforma agrária.

Outro defeito da programação é o conteúdo. Passam programas humorísticos sem a mínima graça - são tão ruins que os efeitos sonoros são usados à exaustão, de modo a induzir o riso; passam histórias de auto-ajuda com moral simplista - já compararam a vida com uma fatia de bolo, como se bolos sofressem depressão ou fossem estuprados.

E tem o Debates Populares, programa no qual um tema é escolhido e os convidados, mediados por Roberto Canázio, "debatem" o assunto. Só que é tudo mal feito. São chamadas pessoas que não tem formação para opinar; não há contraditório no ponto de vista, já que os comentaristas sempre são conservadores; o programa é muito rápido, de modo que o tema é discuto de forma superficial. Desse programa já saiu a pérola de que o cigarro era mais perseguido do que a maconha no Brasil - como se alguém fosse preso por fumar cigarro ou como se ele armasse o tráfico nas favelas.

Roberto Canázio, comentando qualquer coisa sobre o PT, disse que ele fala com o povo. E é verdade; seu programa tem audiência entre os trabalhadores. Contudo, ele não fala pelo povo. Por trás de seu tom indignado, supostamente em defesa dos trabalhadores, há uma farsa: ele finge que faz algo de concreto, mas jamais ataca os problemas pela raiz. Se realmente o fizesse, chamaria sociólogos e antropólogos para discutirem o fim da polícia militar, que tanto massacra os pobres do Rio. Se se importasse. chamaria médicos, psicólogos e assistentes sociais para debater a descriminalização da maconha e do aborto, ao invés de, como já fez, ordenar que as pessoas parassem de ´´cheirar´´ e se ´´picar´´. Se tivesse consideração pelo povo que o escuta, passaria de chamar a ditadura de Revolução, que abortou as reformas de base de Jango e exterminou os verdadeiros revolucionários.

Não. A Rádio Globo e Roberto são cínicos. Falam apenas com o povo, mas não por ele. Se você quer algo diferente, ouça o Faixa Livre, leia Le Monde Diplomatique Brasil, Carta Capital,  Caros Amigos. Mas desligue a Rádio e TV Bobo.



domingo, 15 de junho de 2014

Como não estudar


A revista mente cérebro, em seu número 250, apresentou uma reportagem útil e bem fundamentada sobre métodos de estudo - que, por terem me ajudado na faculdade e nos concursos públicos, gostaria de compartilhar com vocês.

Em suma, a matéria trata de uma pesquisa feita de modo a determinar quais métodos de estudo realmente auxiliam o estudante e quais não; sendo que, no caso daquelas que funcionam, há uma hierarquia de utilidade do método - isso é mais bem explicado na matéria.

Pelo que entendi - digo isso pois acho posso ter interpretado mal alguns métodos - as duas melhores formas são:
 estudar por exercícios, que podem ser feito por nós ou já estarem prontos - como aqueles exercícios propostos no fim do capítulo. Sendo que eles devem ser feitos na mesma proporção da necessidade de se lembrar algo;
 fazer pausas no estudo é estudar com pausas, ou seja, primeiro visita-se um assunto e depois de um tempo retorna-se ao assunto. Por exemplo, para se lembrar de algo após uma semana é preciso estudar com intervalos de 12 a 24 horas - trecho da matéria.

Além disso, o estudo desaconselha uma técnica muito comum: a sublinha. Segundo ele, destacar, circular ou marcar o material é prática comum entre os estudantes. Embora seja rápida e simples, a técnica não provoca mudanças positivas no desempenho. Estudos controlados demonstraram que esse método não foi eficaz nem para estagiários da Força Aérea dos Estados Unidos nem para crianças e alunos de graduação em diversas áreas como aerodinâmica, história da Grécia Antiga ou geografia da Tanzânia. De fato, a estratégia pode prejudicar no desempenho de tarefas complexas. Um recente estudo demonstrou que sublinhar reduz a capacidade de fazer inferências(por meio de associações). Acreditamos que esse recurso chame a atenção para partes isoladas em vez de favorecer conexões entre temas. Além disso, uma vez que o texto está grifado, em novas leituras tendemos a nos apegar ao que já foi destacado, deixando de lado pontos que poderiam ser bastante importantes. Nota minha: na época que sublinhava, muitas vezes isso me consumia muito tempo, já que fazia com régua e às vezes ficava pensando se devia apagar alguma parte sublinhada.

Acho que um estudo desses é realmente importante, pois há muitos ``especialistas`` que, mesmo com boas intenções, acabam atrapalhando os estudantes em sua aprendizagem. Muitos vendem métodos miraculosos, falando coisas como ``aumente sua concentração em 95%`` ou ``potencialize seu cérebro!``, quando podem  estar fornecendo algo que mais vai prejudicar do que beneficiar o aluno - o que é complicadíssimo em caso de concursos públicos, em que a concorrência é acirrada.

Pode ser apenas uma falsa impressão, mas desde que segui as duas primeiras dicas, deixando de lado a sublinha e os resumos, senti que perdia menos tempo para estudar, sem que perdesse qualidade. Ademais, minha rotina de estudos se simplificou bastante, já que não tinha que ficar arranjando tempo para resumir um capítulo ou decidir o que sublinhar - coisas que me angustiavam bastante. Acho que valeu a pena.

Enfim, como posso ter interpretado mal o estudo - senti que certas partes estavam meio ambíguas - e como só postei algumas partes da matéria, recomendo a vocês que comprem a revista. Como é uma edição de novembro passado, é vendido no site da editora; custa apenas 10,71 - pode ser caro para alguns, mas acredito que compense.

PS - Se alguém da revista ler esse texto, por favor, não me processe. Só postei alguns trechos para ilustrar o que a matéria dizia.





sexta-feira, 23 de maio de 2014

Guido Mantega: entrevista no Espaço Público.


Uma entrevista que permite que se conheça melhor Guido Mantega, além da grande imprensa. O programa passa na Terça, às 22:00, na TVBrasil.

Site do programa: http://tvbrasil.ebc.com.br/espacopublico

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Discurso: verde ou vermelho?


Dissertação argumentativa que fiz para um concurso da FCC, de nível médio, para TCE/GO. Não sei se está muito boa, mas acho que pode servir, por seus erros e acertos, a quem estiver se preparando para um concurso público.

O comando era: redija uma dissertação, na qual se discuta a seguinte afirmação: o grande desafio da atualidade é conciliar o crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais, ou seja, com a exploração sustentável do meio ambiente.

O atual grande desafio, principalmente no país mais desigual do continente mais desigual, é aliar o crescimento com o desenvolvimento econômico. Afinal, de pouco adianta obter-se um crescimento sustentável se boa parte da população não tem um mínimo de direitos respeitados. Além disso, o desenvolvimento é algo mais difícil de se conseguir, já que a oposição a ele é maior do que a resistência á sustentabilidade.

Mesmo que um país como o Brasil regulasse a economia de modo a garantir um pequeno impacto da produção sobre o meio ambiente, o cidadão médio não perceberia seus benefícios já que problemas muito maiores persistiriam. Ora, de que bastaria que a "jararaca do Iguaçu" não estivesse ameaçada de extinção se milhões moram em favelas ou periferias abandonadas? Se outros tantos ganham dois dólares por dia? Se milhares, no século XXI, são vítimas do trabalho escravo? Pare esses, que são maioria ou muitos no mundo subdesenvolvido, não faria diferença.

Ademais, impulsionar o desenvolvimento, recuperando os serviços públicos e combatendo a concentração de renda, sofre mais reação na sociedade. Por exemplo: poucos se dizem contra proteger o que resta da Mata Atlântica. Porém, é comum que o Bolsa Família seja visto como uma esmola, alimentadora da preguiça - apesar dele ser uma política recomendada pelo FMI, aquele antro de comunistas. Sem falar na lógica engraçada: é como se os beneficiários fossem sadomasoquistas a ponto de preferir receber o auxílio a melhorar seu nível de vida pelo trabalho.

Portanto, tem que se superar essa lógica simplista e desatenta de que o problema central das sociedades contemporâneas é ambiental. Nesse sentido, cabe àqueles que reconhecem o verdadeiro problema combate-lo - e conscientizar a população sobre ele - pela participação política; seja nos sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais ou meios de comunicação.

PS - O título do post foi o da redação.