Acompanhei, desde junho, as reportagens sobre as grandes manifestações populares que ocorreram pelo país. Assim como outros, via os momentos em que manifestantes sempre terminavam por ´´depredar´´ o patrimônio público: placas de ruas, bancos, lojas, vias, etc.
Não entendia o porquê disso - poderia, afinal, haver um motivo razoável? Enfim, acabava por acreditar que havia um misto de descontrole das pessoas, algo de natureza emocional, e ações de policiais tentando tirar o crédito do movimento, ao se tentar resumir os protestos a vandalismos e saques.
Um dia desses acabei lendo um
artigo na Carta na escola que comentava o assunto. Descobri que o que o jornal local, o RJTV da rede Globo, resumia a vandalismo - ou seja, algo fruto de desocupados que apenas prejudicava a ordem e o patrimônio público - era, ao menos no caso dos Black Blocks, ações políticas e que, portanto, tinha fins políticos.
Por exemplo, comentam no artigo que os bancos eram atingidos pois eram símbolos do capitalismo e, como tal, mereciam ser atacados. Outro fato interessante é que os integrantes do Black Block não se consideram violentos pois, para eles, a violência só existe quando atinge as pessoas; não objetos.
Ora, pode-se não concordar com essa tática de manifestação - eu, no caso, ainda não cheguei a uma conclusão - mas é evidente que esses indivíduos são mais do que simples ´´baderneiros´´. Mal ou bem, são cidadãos que buscam reagir a opressão - a violência do transporte, saúde, educação e segurança públicas de má qualidade, que tantos esquecem que existe apenas porque não parte de alguém concretamente, mas sim do Estado.
O que me entristece e revolta é que um jornal com tanta influência, o RJTV, não se dê ao trabalho de dar informações desse tipo aos seus telespectadores. E não são bobagens; são informações que, por formarem a opinião dos cidadãos sobre as manifestações, tem relevância na vida social da cidade e do país: se a sociedade tivesse lido o que li, talvez mais pessoas tivessem apoiado as manifestações ou ido à elas ou formado novas, e por aí vai.
Não se pode brincar com informações tão importantes, sob o risco de, a partir de interesses privados, manipular a sociedade. Infelizmente, foi o que a rede Globo, novamente, conseguiu.