Segundo o discurso liberal, o Estado é essencialmente um gestor ineficaz; falta a ele o pique da iniciativa privada. Essa, por sua vez, tem a capacidade de garantir a qualidade dos serviços oferecidos, pois sua sobrevivência depende exclusivamente desses – já dizia o ditado popular: o cliente sempre tem a razão.
Entretanto, essa fala é facilmente contestada pela realidade. Basta se observar, por exemplo, o serviço das barcas do Rio de Janeiro; que, apesar dos constantes aumentos da passagem, se mostra incapaz de oferecer um mínimo de dignidade a seus consumidores. Atraso, superlotação, despreparo no atendimento são uma constante na rotina daqueles que as utilizam.
Outro ponto que pode ser levantado contra esse modelo é o da democracia. Ora, em uma sociedade que fatores essenciais à formação de um cidadão ,como saúde e educação, se vêem barrados pela renda, acaba sendo inevitável que aqueles que disponham de poucos recursos sejam alijados dos serviços oferecidos ou, ao menos, recebam serviços de uma menor qualidade – cenário facilmente evidente, por exemplo, no caso das universidades privadas; dirigidas às camadas pobres e, em sua maioria, de qualidade duvidosa. Em suma, uma minoria consegue pagar por seus direitos, enquanto a maioria fica à deriva, sobrevivendo como pode.
O discurso que fundamenta essa prática é, por vir de cima, insensível. Seus ideólogos, certamente provenientes de camadas privilegiadas, não se importam com o sofrimento alheio. Para esses, mazelas como a fome, sede, violência, desemprego são meramente efeitos da ação individual; ‘’se eles trabalhassem mais, se fizessem mais esforço...’’. Mesmo aqueles que admitem as falhas do sistema, enxergam essas questões como um mal necessário à manutenção da ordem – ou desordem? Me recordo que um certo economista, encarnando essas opiniões, afirmou que não havia nenhum problema em alguém não ter aonde morar...
Ora, é evidente que esse é um modelo não desejável. Cabe à aqueles que desejam uma sociedade mais igualitária, justa e harmônica lutar para que o Estado, sob julgo da população, retome o monopólio desses direitos; direitos esses que jamais devem ser vendidos para a população, afinal, jamais deixaram de pertencer à ela.
domingo, 15 de abril de 2012
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Solidariedade
Recentemente
tive que ir ao Rio de Janeiro resolver alguns problemas. Desci na rodoviária
Novo Rio e segui em direção às minhas pendências.
Após tudo
ter sido resolvido, peguei um ônibus para retornar à rodoviária. Quando
desembarco desse ônibus, sou rapidamente abordado por um assaltante. ‘’Vem
comigo’’; ele tenta me puxar para um canto. Já tenso, me afasto e sigo em
direção a um aglomerado de motoristas de uma pequena rodoviária local.
Olho para
os lados e percebo que o assaltante, discretamente, espera o grupo se
dispersar. Nesse instante, um motorista próximo avisa que duas pessoas estão a
me chamar. São outros motoristas; vou em direção a eles.
Chegando
lá, eles comentam comigo que perceberam que estava sendo assaltado; perguntam
de onde sou e, sabendo que devo retornar a Novo Rio, pedem para eu entrar no
ônibus; me levariam até a entrada dela – quando, de início, estava indo pelos fundos - de ônibus, para evitar que o assaltante tentasse me seguir.
Daí tudo
correu tranqüilamente. Graças à ajuda desses, consegui evitar um assalto e,
quiçá, algo pior. Me lembro que nesse dia me senti bastante tocado pela
generosidade desses trabalhadores, que, sem me conhecer e tampouco sem exigir
algo em troca, me deram uma carona contra a tão conhecida violência urbana.
Certamente,
um ato que ficará na minha memória e que reforça minhas concepções socialistas. O povo brasileiro merece um país melhor.
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